supercrônico

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crônicas, contos e poesias

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vendedor - O inimígo público

Sabe quando você esta no banho quente, em pleno mês de junho, faz frio lá fora e você relaxa sentindo a água cair em gotas nas suas costas, mas um furo mal planejado em seu chuveiro lança uma gota fria que cai bem no seu ombro. Chato não é!? Tão chato quanto aqueles programas de domingo a tarde, que você acaba assistindo por não ter o que fazer em um domingo tão chato quanto aos  mesmos programas que passam na TV. E aquele amigo que chega na sua casa a qualquer hora, entra sem chamar ou apertar a campainha, te acorda puxando seu edredon da cama, abre a geladeira e depois quer ir aonde você vai. Esse pingo chato, esses programas de domingo e esse amigo importuno, são tão chatos quanto à aqueles vendedores que te ligam na hora do almoço pra te vender um curso de informática ou produtos veterinários. O curso é até interessante e o sal pra boi também, mas não estão em seus planos. O vendedor te convence a importância do curso mas te incomoda por uns 10 minutos enquanto você diz não.
O CIDADÃO COMUM TEME O VENDEDOR COMO SE TEMESSE UM INIMÍGO PÚBLICO. As palmas no portão soam como uma rajada de metralhadora R-15 e aquela mala de couro na mão deles mais parece um porta-munição.
Ah! Quem nos dera se todo mal do mundo fosse os vendedores, que se as comunidades ao invés de serem tomadas por traficantes ou mílicias, fosse invadidas por individuos que tentam ganhar a vida te empurrando mercadorias e que ao invés de ser assaltado a mão armada você fosse abordado por um vendedor que te diria frases decoradas de markenting tipo:
"Você quer comprar um livro de auto-ajuda escrito por um sábio  chinês e que de brinde você ganha outro livro de receitas escrito por Ofélia?".
E você um bom cidadão consumidor acoado diz não, mas que logo é abordado por outro que diz:
"Você deseja comprar um shake emagrecedor que no ato da compra leva também  uma caixa de barras de cereais e uma gelatina diet?"
Nisso você continua a dizer não mas da de cara com um senhor de chapéu de palha e um cesto também de palha na mão que te diz: "Olha o queijo fresquinho de minas" e você sem suportar diz NÃOOOOOOOOOOO!!!
Pior é quando você esta do outro lado e deixa de ser alvo pra ser um caçador assíduo de consumidores tentando convence-los com suas técnicas verbais de venda. É ruim se sentir temido, pois independente de ser legal ou chato os vendedores são trabalhadores honestos como qualquer um.
Cabe ao vendedor ser sútil e agradável e o consumidor atende-los com respeito e educação.

Texto escrito e publicado no dia 28/12/10 e reeditado no dia 24/11/11

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O gazeteiro

"Na compra de um jornal você leva um brinde e só paga um real"

Era uma frase elaborada e decorada, mas bem que funcionava na época em que eu gazetava no farol do cruzamento das avenidas Piedade e Estudantes, em São José do Rio Preto-SP. Era um atrativo além da leitura, que eu oferecia toda quinta-feira para melhorar minhas vendas de jornal, mas tinha aqueles que com brinde ou sem brinde, nem olhava para o lado, permanecendo intacto, segurando firme ao voltante, até então eu insistir e completar a frase dizendo que o brinde era uma nota de cem reais. O 'Mauricinho' no carro do ano me virava num súbito e árduo movimento, sorrindo e já com a mão no bolso de trás pra tirar a carteira e comprar um jornal com o brinde faturado, pra em seguida fechar o rosto descobrindo que é mentira minha, com ar de "não teve graça" pra no fim eu sorrir, ou melhor, 'rolar' de tanto rir. Era uma mentira feita pra testar a personalidade destes mesquinhos movido a gasolina.
Percebi o quanto muitos se acham superior pelo simples fato de estar acomodado nos estofados de um carro, com ar condicionado e som potente, ainda mais diante de alguém que se expõe ao sol ardente, a chuva, o vento frio das manhãs e o perigo de ser atropelado por um motoqueiro enfurecido: "Hoje sou eu que está aqui, mas amanhã pode ser você", pensava eu com meus botões, apesar de achar que ninguém é mais que ninguém, por portar bens materiais que se degradam com o tempo.

"Na compra de um jornal você leva um brinde e só paga um real"

Era quase automático, pois bastava eu abrir a boca pra frase sair harmonicamente, as vezes saia com melodia virando refrão de uma música que não exisitia, ou só exisitia sem querer naquele momento e era aí que o cliente/motorista gostava..
O brinde oras era um caldo de galinha em tablete pra temperar a comida, oras era um cupom pra preencher e ganhar descontos na entrada do cinema e assim por diante e, de tanto pronunciar a frase, que era quase um slogan, me embananava todo trocando a ordem das palavras:

"Na compra de um brinde você ganha um real e só paga um jornal"

Caracas, quando eu percebia já tinha falado, era a força do hábito versus o tempo escasso que corria atrás de mim, feito avalanche nas montanhas geladas de um pólo qualquer do nosso planeta imenso, cujo eu ia de carro em carro, naquelas longas filas de motoristas impacientes, que eu sem perder a minha, cumpria meu horário de labuta feliz da vida

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cadú diante do trem

Cadú passou a infância no início dos anos 90, e ele e seus amigos tinham como diversão a rua, numa época em que não existia internet, celular e toda parafernalha que o avanço da tecnologia disponibiliza aos jovens da atualidade. Ora jogava betcha, ora jogava bola descalço e sem camiseta, ora soltava pipa, ora descia a ladeira num carrinho de rolemã, desenhando o trajeto pra quem vinha atrás em outro carrinho de rolemã também, com pó de mico no asfalto e etc, sendo assim feliz. Mas essas eram as brincadeiras que ele e sua turma exerciam diante dos olhos dos seus pais, pois muitas vezes, quando enjoavam dessas peripércias toda e comum de qualquer criança pobre da época, eles saiam pra quebrar os vidros de uma casa velha abandonada no bairro, pra apanhar seringuela no barranco, pra deslizar o corrimão da passarela que liga o bairro ao antigo Cine Aquárius num  pedaço de papelão. Saíam pra pregar também chiclete mascado na campainha do vizinho pra sair correndo depois e algumas vezes, pra desafiar o trem de frente, era o mais perigoso, porém o mais divertido. Sim, sentavam eles pra conversar na linha férrea de dormentes velhos e cheio de farpas, que passa debaixo do viaduto que liga a avenida Murchid Homsi ao Parque da Represa Municipal, mas precisamente  próximo a uma da tarde, no horário que o trem com dezenas de vagão carregados de soja, óleo, milho, algodão e etc passava.
Olha o trem! Alguém gritava avisando e os demais levantavam em seguida aguardando-o.
Duda costumava desafia-lo descendo a bermuda e urinando enquanto ele se aproximava, Kiko, Gordo e Dani, esperavam o trem se aproximar a poucos metros de distancia pra então fugir sem sair da linha férrea até aonde dava e pularem de banda, mas Cadú desafiava-o de frente, olhando pro farol e pra cara do maquinista que o ensurdecia com a buzina fazendo cara de espanto, pra depois só pular pro lado escapando da morte.
Mas o tempo passou, cresceram, constituindo família e cargos profissionais.
Ouvi dizer que Duda casou, esta morando na Zona Norte da cidade e abriu uma fábrica de semi-jóias nos fundos de casa. Dani, a unica menina que vivia no limite com os meninos, assumiu gostar de menias e mudou pra outro estado afim de estudar arquitetura, Gordo, já não é mais gordo e detesta quando um amigo de infancia que a reencontra lhe chame assim e Kiko, de todos foi o que eu recebi a pior notícia, pois dizem que ele esta acamado, não progride mas também não parti pra pior. As más linguas falam que ele tem HIV e não se cuidou a ponto de chegar a tal estágio.
Cadú era o único que ainda morava no mesmo bairro, na mesma rua, na mesma casa com os pais, sempre buscando novos rumos de desenvolvimento pessoal, sem querer cortar o cordão umbilical que o ligava do presente às lembranças da infância, apesar dos quase 30 anos de idade.
Certa vez, Cadú foi visto andando cabisbaixo, encurvado pra baixo e pra frente, como se carregasse um fardo invisível e pesado nas costas, numa tal tristeza que só ele entendia. Desceu a rua Aterradinho, caminhando em direção ao Júpiter Olímpico até então ver o trem fazendo a curva, saindo da estação, enquanto atravessava a linha férrea. Cadú lembrou de cada instante da infância sem juízo e quis sentir se ainda tinha a mesma coragem ficando estático diante do minhocão voraz de ferro, olhando pro farol do trem e pra cara do maquinista que a ensurdecia com a buzina e com cara de espanto, como um toureiro que encara o touro, como um jogador atento pra bater um pênalti.
Alguém gritou: "Você é muito jovem pra morrer", mas a buzina do trem era tão alta que Cadú nem ouviu, saltando de lado, escapando da morte, provando que a mesma coragem de menino prevalecia em seu ímpeto, com a certeza de que a dor que lhe afligia se foi, carregado com a força da velocidade do trem.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O mundo exagerado das mulheres

Chegará uma hora em que elas sentirão os sintomas que lhe afetará em toda a sua esfera biológica, psicológica e social. Chegará uma hora também que elas vão ficar irritadas, ansiosas, deprimidas, com dores de cabeça, cansaço, devorando caixas e caixas de chocolate, culpando o homem por não sentir o mesmo, desejando o mesmo, suplicando o mesmo, pois daí será o início de uma nova vida.
Assim como o apito de um árbitro de futebol, assim como a bandeirada da fórmula1, assim como o disparo numa prova de revezamento 4X4, tudo tem seu começo e o começo das mulheres se enlouquecerem e enlouquecerem o homem por tabela, elas chamam simplesmente de TPM (Tensão pré menstrual).
Nisso elas vão chorar lhe pedindo sua presença ou vão te expulsar de casa sem você saber o porque, se adaptando a dismenorréia (cólica menstrual) e as mudanças do corpo. Vão também crescer, se desenvolver tanto fisicamente, socialmente, psicológicamente, passando por desilusões amorosas, profissionais, conquistas, amores e vão tentar por várias vezes matar uma barata de 3cm mais ou menos a gritos (eu nunca vi uma barato morrer a grito) desesperados.
O interessante (ou o desinteressante) é quando elas te atrasam em algum compromisso, pois estão se trocando, provando a mesma a roupa que elas já conhecem e tem no guarda roupa a muito tempo, tirando-as e vestindo-as por várias vezes, olhando a bunda no espelho, porém daqui a pouco terá uma festa, nessa festa terá outras mulheres e lá vai rolar uma guerra fria de imagens: "Porém não o importa o que eles pensam, mas sim o que elas acham", diz o lema feminino.
E o ápice dessa loucura toda, será a preocupação exagerada com um "defeito" real ou imaginário em seu corpo, ou seja, vão se olhar no espelho por horas e horas e vão dar ênfase a qualquer coisa do tipo: pinta, espinha, pneuzinho, um pêlo crescido e se sentirão gordas, obesas, mesmo sendo magras. Mas mal sabem elas que nós amamos elas mesmo assim, que quem esta do lado delas somos nós e não vivemos sem elas (com recíprocidade).