supercrônico

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crônicas, contos e poesias

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ser paciente é ser paciente

Eram 8 da manhã quando o relógio despertou, levantei me, tirei o pijama, vesti uma bermuda jeans, uma camisa polo azul, tomei café e procurei chegar um pouco antes da hora marcada. Assim que cheguei vi de cara vários bancos diante da porta de uma sala, com cerca de 15 ou 20 pessoas, sentadas aguardando para serem chamadas, enfermos e com caras de gente simples sofrida. Tinha um individuo que ocupava duas cadeiras, uma pra se acomodar sentado e outra pra apoiar a perna enfaixada e, também tinha uma senhora gorda que dormia em cima do próprio ombro ao lado de outra, com a mesma faixa etária de idade, que tossia ineterrupitamente. Deu 9 horas e nada do médico aparecer, portanto era a hora marcada para a tal consulta, mas, havia apenas a porta do mesmo fechada, com uma plaqueta escrita:"sala 27", e um papel sulfite branco, fotocopiado em preto o nome dele. O médico chegou era 9:15 da manhã, tirou uma dose de café, adoçou, deu alguns passos dando bom dia sorridente com ar de "to em casa" a todos pacientes, que o aguardavam sentados e os pacientes responderam, como se ja fosse intimos do Doutor, principalmente os mais idosos.
Minutos depois, já de dentro da sala, a mesma onde se encontrava os bancos de espera em frente a porta, o Doutor, chamava um por paciente por vez e pelos nomes, enquanto os demais aguardavam por ser chamado.  Aos poucos, os bancos de espera iam se esvaziando, enquanto eu ainda aguardava, balançando a perna, na mesma sintonia que o rapaz de perna enfaixada também balançava impacientemente. No banco, além desse moço, que se levantava pra beber água apoiado numa muleta, e voltava, sentando-se da mesma maneira que na qual se encontrara, que no caminho aproveitou pra rabiscar uma outra placa no corredor da mesma, estava também a senhora gorda que dormia no próprio ombro , que  agora se apoiava no ombro de uma outra, que por sinal era amiga, ou viznha, ou parente, ou alguém que não soube dizer não, deixando a coitada apoiar-se e a senhora que tossia ineterrupitamente. As vezes tossia como um metrometro, que marca o tempo de um múscio num estúdio.

COF,cof,cof...COF,cof,cof...COF,cof,cof...

E ás vezes tossia com ritmo, junto a outro que também passou a tossir, lá atrás formando uma sinfonia de tosses na sala de espera, que ressonava entre o teto de gesso e o chão.
  Deu 10 da manhã e todos ja tinham sido atendido, exceto eu e a senhora que tossia muito, que com os olhos rasos dágua  me virou e disse:"Se o médico não me atender eu morro aquí mesmo moço". Me partindo o coração e me fazendo dar a frente a ela, que aparentemente tinha mais urgência, fazer o que? Já esperei tanto, não custava nada esperar mais um pouco. Pensei com meus botões.
  Dez minutos depois ela saiu da sala do médico, com a receita de um remédio nas mãos e mais aliviada, mesmo tossindo ainda.

"o próximo paciente por favor".

Em seguida fui chamado, Ufa! Até que enfim. Ele nem me chamou pelo nome, porém sabia que depois de mim não tinha mais ninguém. Entrei, sentei na cadeira e perguntei:"Você me chamou de paciente?"
E ele respondeu:"Sim, paciente".
Pois dai eu disse:"Por acaso sou paciente por ter paciência de te esperar  tanto?"
Sem graça ele me sorriu de lado e me perguntou já mudando de assunto:"O que você precisa?".
Insisti mais uma vez e disse: "Será que o senhor teria a mesma paciência que eu? Já passou por isso?"
Mas no fundo a gente entende, contudo, muitos deles tem que sair correndo de um hospital a outro e chegar em tempo pra atender a todos os pacientes agendados e, é nisso que surge os atrasos e a espera tediante de quem quer ouvir apenas palavras de cura de quem entende do assunto.
O que precisa é de mais hospitais, uma vez que pagamos impostos... E pagamos muito por sinal.

Texto escrito e publicado no dia 08 de outubro de 2010 e reeditado dia 05 de abril de 2011

Um comentário:

  1. Massa a reedição. Bem verdade que é uma situação complicada, mas confesso que ri bastante com a senhora que tossia "com ritmo" . Bem engraçado. Mostra de maneira divertida , porém realista , a situação (lastimável) em que se encontram os locais de atendimento de saúde no nosso país. Muito bom . Até mais

    ( Uia, comentei sem erros de português ! RSRSRSR )

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