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crônicas, contos e poesias

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Qualquer um pode ser anjo

Talento pode significar uma vocação ou um dom para alguma atividade ; assim, afirma-se que tal pessoa tem talento para a música, ou pro cinema, ou talento culinário, ou talento para lidar com crianças, ou pra lidar com idosos, talento pra falar em público, talento pra interpretar, pra pintar, desenhar, vender, construir, pra dropar em ondas imensas, no Hawaí ou descobrir paisagens naturais jamais vistas, do nosso país.
Talvez o meu Dom seja esse de fazer você ler as crônicas que escrevo mas tem gente que tem o curioso Dom de ser anjo.
Anjo nada mais é do que uma criatura celestial, acreditada como sendo superior aos homens, que serve como ajudante ou mensageiro de Deus, segundo a tradição judaico-cristã; mas naquela tarde de quarta-feira o mensageiro enviado por não sei quem foi uma velhinha que sentara ao banco de um ponto de ônibus próximo a um grande hospital público numa movimentada avenida do centro da cidade, que após me ver atravessar a rua diante de carros velozes que quase me atropelara me disse: "Perca um minuto da sua vida mas não perca a vida em um minuto".
Mal agradeci a velha e continuei o meu trajeto remoendo no meu cérebro a aquela frase.
Na iconografia comum, os anjos geralmente têm asas de pássaro e uma auréla. São donos de uma beleza delicada e de um forte brilho, e por vezes são representados como uma criança, por terem inocência e virtude. Mas aquela era uma anja velha, feia, cheia de rugas, com os cabelos grizalhos, um vestido florido até o tornozelo, com uma faixa de gase enrolada no mesmo pra disfarçar as feridas, encurvada se apoiando em uma bengala, sem asas, sem brilho e longe de ser uma criança, mas que foi o meu anjo do dia.
Nisso passei a notar esse Dom de ser anjo em várias pessoas; quanto mais velho mais talentoso é o anjo.
Até os monstros sociais que se alimentam da ganância, de bens materiais, da inveja e outros também tem o seu momento angelical.
Toda mãe se torna uma anja natural á partir do momento em que pari seu primeiro filho, é automático, guardíã da vida cujo terá que acompanha-lo até ganhar asas e voar sozinho. Logo nos primeiros passos a mamãe diz: "primeiro aprenda a caminhar pra depois correr", e quando cresce e entra naquela fase que na qual deixa a adolescencia pra virar adulto, a mesma mãe guardiã ja adaptada aos fatos atuais, aconselha-o como sempre tem aconselhado:"Use sempre camisinha, não use drogas, olhe bem com quem tu andas". É como se encostassemos o ouvido no peito dela e escutasse essas frases todas vindo la de dentro.
Certa vez, diante de uma moça que chorava a soma de tragédias passadas de sua vidas, fora a dor da solidão e algumas doenças que lhe aflige, me aproximei e disse: "vire a página e escreva você mesmo o final feliz do seu livro vital". Poxa, saiu sem querer, quando vi já tinha falado, não sei se ela entendeu, não sei se soou bonito, só sei que saiu como um disparo acidental do coração e era o máximo que eu podia fazer até então, embora eu não sou médico, nem psicólogo, nem nada.
Ela me sorriu e disse retribuindo  com um beijo no meu rosto:"você é um anjo". A príncipio encarei como um elogio, uma vez que ela era bonita e doce, mas depois pensei: " No caso, hoje o anjo sou eu", ria comigo mesmo e os pensamentos prosseguiram: "Qualquer um pode ser anjo". Tanto pobre quanto rico, gordo, feio, velho, jovem, vistoso, mal trapilho ou bem vestido, embriagado ou sóbrio, perambulando pelas ruas ou no sofá deitado assistindo Tv, na feira, na escola, no trabalho, na fila do banco, na praça, ou seja, todo mundo é anjo de alguém, é um dom natural até dos demônios.

Texto escrito no dia 25 de Dezembro de 2010 e reeditado dia 13/11/11

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