Eram gaivotas, que decolavam com os pés úmedecidos da relva, da planície verde brilhando sereno, em bando e em forma de "V", rumo ao Deus Tupã, de canto, borrado de giz de cera alaranjado. Observando uma casinha, com chaminé, um belo jardim em volta e um índio na varanda, sorrindo e exibindo frutos de uma bela pescaria. Assim como era qualquer criança sonhadora da época, no ritmo da Faber Castel, do Toquinho, diante de uma carteira escolar, papel sulfite branco, lápis de cor e com a mente em evolução a ponto de não caber mais na caixa craneana, abaixo de uma lâmpada encandescente e flutuante.
Hoje, são poesias, letras de música, contos e principalmente crônicas, manuscritas em folhas de papel pautado ou digitados em um computador antigo, tipo tartaruga, tipo empoeirado, desleixado, que são publicados em um jornal local.
São crônicas dele, pois fala do seu dia a dia, da sua rotina, da ida de casa ao trabalho, chutando pedrinhas que se soltam do asfalto quente, num dia de calor intenso. Crônicas que falam da sua volta do trabalho até sua casa, brincando de deslizar os dedos da mão nas grades, das casas, da sua visão diante de um lago, sentado em um banco qualquer.
São crônicas dele, porém minha também, pois me coloco no lugar dele, fazendo das suas palavras minha, me fazendo sonhar, chorar, sorrir, voar. Com ele eu me identifico e me prontifico a virar personagem de seus textos; seria um orgulho e um imenso prazer.
A sua arte tinha o poder sucção, puxando-nos pra dentro da sua mente, do seu mundo, do seu coração.
São crônicas dele, porém minha e sua. Contudo você me disse que se via, quando lia tudo que ele escrevia, em tal hora, em tal lugar, com as mesmas cores, cheiro e, copiou uma de suas poesias enviando-o para a sua amada, dizendo que eram palavras suas. Um roubo, discarado, disfarçado, mudando o titulo e com desenhos de corações em volta. Alguém, por favor, chame a polícia!
"Tudo bem", ele disse: "Se for pra fazer o bem, não tem problemas". Ele tinha um bom coração.
São crônicas dele, minha, sua e nossa. Digo nossa, pois estão em páginas de livros didáticos escolares, de gramática, pra ser interpretado, resumido, marcado, ilustrado como lição de casa e, no final de cada página esta escrito: Autor desconhecido, uma lástima.
Ele escrevia por si só, sem pretenção alguma, num diálogo consigo mesmo, sem saber destinguir contos de crônicas, que na qual vacilou e deixou vazar suas obras.
Nossas crônicas, porém além de estar em páginas de livros didáticos escolares, estão em páginas de jornal, blogs da internet, fotocopiado e colado em cabeceiras das camas ou do lado de dentro, das portas dos guarda-roupas.
Quem ser ele? quem ser eu? Você? Nós todos? E pra onde foram as gaivotas?
É tão engraçado isso neh, sempre me deparo com a seguinte fala: "Eu odeio ler", e penso: "o que será que ele(a) pensa que é ler?"...Praticamos diariamente o ato de ler, e mais que isso lemos e interpretamos, pois temos o hábito de ler até as pessoas com as quais nos deparamos diariamente.
ResponderExcluirVivemos uma crônica diária e necessária as nossas vidas, pois precisamos de doses diárias de ficção e fantasia em nossas vidas, pq senão tudo seria uma eterna realidade nua e crua, imagina vc sem a novelinha das seis para criticar, e olha só a crítica começa desde o horário em que ela começa, quem nunca disse: "han, novela das seis, mais ela começa quase seis e meia"...Aí temos a história de uma índia que carrega uma maldição, olha a ficção aí que se entrelaça aos contos, fábulas e com uma pitada de fatos que acontecem a qualquer mortal, pronto olha a nossa crônica aí, nossa gaivota de asas longas e voo sereno, que nos faz rir até das coisas mais sem graças e tem a sutileza do viver, diria: "o delicado essencial", que nos vem em linhas suaves para abrandar o cotidiano massante, que nos engole a cada passo mau dado...
Obrigada cronista, por nos mostrar no mais findo céu suas gaivotas de voo sereno...