Soou como um parto

Nos dez primeiros minutos do dia 13/10/2010, emergiu do subterrâneo do deserto de Atacama na cidade de Copiapo no Chile de um túnel vertical, uma cápsula com 50cm de diâmetro com as cores branco,azul e vermelho, da bandeira do mesmo país trazendo dentro dela alegria.Era a alegria de trazer de volta a terra o primeiro dos 33 homens soterrados na mina de San Jose. Florêncio Álvaro,31 anos, logo esboçou um sorriso ao ouvir as palmas dos residentes do acampamento Esperança, da equipe que se empenhou pelos resgates dos mineiros, do Presidente Sebastian Piñera, da primeira dama e da Mulher,seguido de um forte abraço do seu filho de 7 anos que chorava muito.Quarenta minutos depois a cápsula traz também o segundo mineiro resgatado do subterrâneo da mina. Era Mário Sepulveda, considerado o mais divertido da turma, que comemorou sua liberdade com muito bom humor e gritos de guerra,presenteando o presidente com pedras que trouxe de recordação do fundo da mina. E a cada vida resgatada eu ouvia: "Nasceu denovo, nasceu denovo". Foi daí que eu passei a enxergar toda aquela operação de resgate de uma forma diferente. Era como se o solo da superfície da mina fosse uma mãe sentindo as contrações de um parto e a cápsula fosse a placenta, puxado por um cabo que era como um cordão umbilical, que ligava a cria ao mundo.
A mamãe de terras rochosas paria um de cada, com um intervalo de 40 a 50 minutos mais ou menos,parindo homens de 19 a 63 anos de idade, parindo homens que ficaram sepultados vivos por 68 dias,  comendo atum e bebendo leite pra sobreviver, parindo homens que só tinham a esperança de ser resgatados vivos depois do natal de 2010, parindo homens que muitos especialistas acreditaram não voltar com vida, parindo homens que servirá ao longo dos anos como um bom exemplo de força e resistência física, homens que superaram a vontade de viver mais uma vez.