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crônicas, contos e poesias

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Um bom rapaz no Brás e seus super poderes

Um bom rapaz no Brás é aquele que fantasiosamente se transforma, adaptando-se a cada situação, como se fosse o Morpho que teve sua primeira aparição em 1992 no X-men. Um Morpho social deslumbrado e perdido numa cidade grande, horas e quilômetros distante, que logo se torna invísivel ao meio daquela multidão esvairecida, tumultuosa, disputando lugares nos corredores estreitos, entre uma piscina ou outra de tecidos costurados. Diante daquele empura-empurra danado, o bom rapaz se torna um atacante de football, abrindo brechas na ombrada e no jogo de cintura pra chegar onde deseja. Claro, sempre com educação pra não arrumar confusão.
O bom rapaz no Brás se assusta ao ouvir de trás alguém gritar: "Olha o pesado... Olha o pesado...", que nada mais era que um jovem que ganha vida empurrando carrinhos de compras à aqueles que consomem muito, também querendo brechas pra passar com seu carrinho de mão.
O grande e popular Brás, situado na região central de São Paulo, que nasceu numa região de chácaras, que cresceu e desenvolveu como bairro operário e pátria dos imigrantes italianos, depois acolhendo os imigrantes nordestinos, que hoje também me acolhe por alguns instantes, respirando diafragmamente pra manter a calma, diante do caos e sob o céu acizentado da capital paulista.
O bom rapaz no Brás se assusta novamente ao ouvir alguém gritar de trás: "Olha o quente... Olha o quente", que por sua vez era uma trabalhadora que, cuidadosamente também abria brechas nos corredores apertados com um copo de café cheio nas mãos.
O bom rapaz no Brás se torna um surfista dropando no mar de gente, nas cabeças dos trinta mil que alí circulam. A lua sumiu em um eclipse de terça feira, mas esses trinta mil não viram, apenas viram  camisas e camisetas, bermudas, calças, cuecas, meias, vestidos, calçados, bijouterias, lingeries, bonés, perfumes, brinquedos, bolsas, nas quatro mil e quinhentas barracas alí presentes.
Logo o bom rapaz, que até então era uma coruja, pra suportar a força do sono daquela madrugada quente e  esperto quanto a maldade daqueles que roubam as carterias e compras, se transforma em Reed Richards, o borrachudo do quarteto fantástico, se esticando todo entre as mãos que se tapeiam nas bancas das feiras. O bom rapaz no Brás é um verdadeiro super-herói, que enfrenta o desconhecido em busca de seus objetivos, encontrando coincidentemente outros super heróis, vindos de todo Brasil, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Interior Paulista, Será uma reunião da liga de Justiça?  Nossa! Quantos heróis como o bom rapaz perdido no Brás.
De Reed Richards para um leão feroz, devorando compras e compras e depois caminhando usufruindo da força de um urso para carregar sacolas e sacolas.
Da pra formar uma cidade se juntarmos todos os coreanos, chineses e outros estrangeiros que ali pertencem. Da pra formar um nação de tantos transeuntes que ali frequentam, nação que aumenta cada vez que nos aproximamos do Natal.
O bom rapaz volta a realidade e deixa de ser Morpho pra ser ele mesmo e, volta para casa ainda sentindo no ar o cheiro de roupa nova.

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