
Atrás de mim um velho tossia e reclamava que, o médico lhe receitara o remédio errado para a sua tosse, que o ônibus coletivo não tinha ar condicionado, que o motorista freava bruscamente, fazendo que os passageiros apertados se misturassem trocando de lugar um com o outro, que seu patrão lhe obrigava a trabalhar mais que as suas 8 horas devidas e que sua aposentadoria não saia. Uma outra toda perfumada, com o cabelo vermelho cobre e as raízes pretas por pintar, usando salto e um vestido amarelo que subia toda hora, dizia para uma moça negra que lhe acompanhara, que a melhor amiga comprara um vestido igual a dela, por pura inveja, mas que o seu era original da marca enquanto o da melhor amiga não era, e as duas riam debochando do fato, isso porque era a melhor amiga. Um homem de gravata pregava o evangelho com a bíblia aberta, mas sua voz se perdia entre o som do celular dos garotos do fundo e as conversas paralelas dos demais alí dentro.
Minutos depois, de ponto a ponto, o onibus sobrecarregou mais ainda sendo ocupado até o pequeno espaço do motorista bigodudo, fazendo que o calor e o cheiro de marmita quente, misturado com o cheiro de perfume barato da moça ruiva de amarelo se espalhasse pelo interior do coletivo.Dentro do ônibus é um barato, tudo é caro, se chove é ruim, se faz calor também, ninguém é bom, nenhum hospital, assim como nenhum trabalho, assim como nenhuma linha de ônibus coletivo que transportara todos pra lá e pra cá nessa cidade grande todo santo dia.
Logo o ônibus que eu estava, entrou na Pedro Amaral e adentrou o terminal rodoviário. Os passageiros se tumultuaram na porta, apreensivos e com medo de perder o outro, da linha que os levam ao trabalho sempre. A porta se abriu e quando eu achava que todas as reclamações e fofocas tinham terminado eu ouvi alguém falar; " Pelo amor de Deus motorista (pobre do homem), não da pra parar mais próximo a guia? Não empurrem... Não empurrem..."
Dentro do terminal tinha vários deles estacionados, uns prontos para sair, uns embarcando, outros desembarcando, mas todos com a cor azul, branco e com detalhes alaranjados, adesivado com o nome da empresa em toda extensão das laterias, mas que eu chamo carinhosamente de Circular Santa Fofoca.
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